Recentemente muito se fala sobre a “chegada” dos derivativos de energia elétrica, mas vejo que poucas pessoas sabem realmente do que se trata e como podem se apropriar dessa ferramenta para estruturar estratégias. Sendo assim, esse texto tem como objetivo compartilhar os principais conceitos a respeito deste tema.
O que é derivativo de energia?
Derivativo é um instrumento financeiro cujo valor depende (ou deriva) dos valores de outras variáveis subjacentes mais básicas, onde essas variáveis básicas podem ser taxas, ações, índices ou, no nosso caso, o preço da energia elétrica. Este tipo de produto pode ser negociado tanto em estruturas de bolsa quanto balcão.
Qual a diferença entre a negociação na bolsa para o balcão?
A principal diferença entre eles é a presença de uma contraparte central (clearing house) em mercados consolidados, responsável por intermediar as operações entre compradores e vendedores com o compromisso de contabilizar os resultados e assumir o risco de crédito entre eles.
Enquanto em operações de balcão – como ocorre normalmente na comercialização de energia elétrica – as operações possuem caráter bilateral, ou seja, o risco de crédito pertence aos próprios agentes que operam o produto.
Quem são os responsáveis pelas negociações?
Quem realiza as transações de compra e venda são os traders. O objetivo desses profissionais é aproveitar a volatilidade do mercado.
Os traders podem ser classificados em três grandes grupos:
- Hedger: são os agentes que adotam estratégias orientadas à proteção em relação à volatilidade de preços. Normalmente, o comprador de um produto de derivativo busca previsibilidade de custos no futuro, eliminando a exposição ao preço à vista do ativo. Enquanto o vendedor, sob a mesma lógica, busca previsibilidade de receita no futuro.
- Especulador: são os agentes que buscam auferir ganhos financeiros aproveitando-se da oscilação de preços, se posicionando conforme aposta de alta ou baixa do preço do ativo. Este tipo de agente é diretamente relacionado à liquidez do setor, aumentando o número de negociações e, consequentemente, permitindo que outros players encontrem contrapartes para concretizar operações.
- Arbitrador: por fim, estes são os traders que buscam operações de curto prazo e risco quase nulo identificando diferença de preços entre mercados e produtos similares. A arbitragem envolve garantir lucro de risco zero pelo fechamento simultâneo de transações em dois ou mais mercados.
Quais são os principais instrumentos financeiros de derivativos?
- Contrato a termo: compromisso de compra e venda de um ativo por preço fixado para liquidação em data futura, exigindo a permanência na posição até a data de liquidação. Percebe-se neste instrumento a similaridade com os contratos-padrão do setor elétrico. Dessa forma, pode-se concluir que os “derivativos de energia elétrica” sempre existiram, apenas assumindo recentemente uma posição de destaque e evolução dos meios de comercialização.
- Contrato Futuro: pode-se entender como uma evolução natural dos contratos a termo, mas com padronização acentuada e presente somente em estrutura de bolsa. A principal diferença é a remoção da restrição de permanência na posição até a data de liquidação, permitindo a livre negociação do contrato antes da data de vencimento.
- Swap: refere-se aos contratos de troca. Exemplificando no setor elétrico, pode-se trocar fonte de energia, submercado ou período de fornecimento.
- Opções: são contratos que garantem o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender determinado ativo por um preço previamente fixado (strike price) em data futura (vencimento), mediante o pagamento de um prêmio para o vendedor. Uma opção de compra pode ser chamada de call, enquanto uma opção de venda pode ser chamada de put. Importante destacar que existem dois tipos de contratos de opção: americanas e europeias. As americanas permitem o exercício a qualquer momento até a data de vencimento, enquanto as europeias só podem ser exercidas efetivamente na data de vencimento.
Vantagens da incorporação dos derivativos ao portfólio
Em operações de trading, elimina-se a necessidade de movimentação integral do valor do contrato, operando somente com a diferença entre o valor fixado e o valor de referência;
- Aumento da transparência de informações, favorecendo a criação de uma curva forward representativa;
- Maior segurança, pois no Brasil é obrigatório o registro de derivativos em instituições certificadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM);
- Aumento da atratividade de capital por permitir que investidores, fundos e outros possam injetar recursos neste setor;
- Negociação do ativo sem compromisso de entrega física de energia;
- Aumento da liquidez;
- Simplificação tributária por incidir somente sobre as margens;
- Otimização de faturamento por não exigir a emissão de NF.
Conclusão
O mercado de derivativos representa um importante passo para a mudança do ambiente de negociação dos contratos futuros de energia.
Com a mudança dos contratos “tradicionais” de compra e venda de energia, os contratos de derivativos de energia não têm uma entrega física da energia, e, portanto, não há registro da energia na CCEE. Ele funciona como um instrumento de hedge de preço futuro e sua liquidação se dá pela diferença em relação ao PLD médio no vencimento do contrato.
Esse novo tipo de modalidade de contrato atende duas demandas dos agentes: proteção contra variação do PLD e redução da exposição ao crédito da contraparte. Ademais, também possibilita a entrada de novos operadores que não são agentes do setor elétrico, fomentando ainda mais liquidez e promovendo mais eficiência na formação de preços nos contratos futuros de energia.
Portanto, o mercado de derivativos evidencia a tendência de financeirização do mercado de energia elétrica e ressalta as mudanças que estão acontecendo em relação a liquidez dos contratos, onde os mais curtos estão migrando para os contratos financeiros, e os mais longos e menos padronizados estão permanecendo nos contratos físicos.